Vivemos em tempos acelerados. A tecnologia encurta distâncias, mas alonga ausências. As notícias gritam, os algoritmos decidem o que vemos, e a correria diária vai nos empurrando para longe de uma pergunta simples, porém essencial: o que realmente importa pra mim?

 


É comum que pessoas cheguem à terapia com um vazio difícil de nomear. Às vezes, esse vazio se manifesta como ansiedade. Outras vezes, como desânimo, cansaço, irritação, ou apenas uma sensação constante de que falta algo — mesmo quando, aos olhos dos outros, parece que está tudo bem.

 


Mas talvez não esteja.

Nietzsche dizia que “quem tem um porquê enfrenta qualquer como”. E é justamente esse porquê que muitas vezes fica perdido em meio ao barulho. Valores são os fios invisíveis que costuram sentido à nossa existência. São como estrelas que não se apagam, mesmo nas noites mais escuras. Não são metas a alcançar, mas direções a seguir. Não se tratam de sucesso, aplausos ou likes, mas da coerência silenciosa entre o que vivemos e o que acreditamos.

 


O problema é que, aos poucos, vamos nos desconectando de tudo isso.

 

As exigências do mundo moderno, o medo de errar, o receio de decepcionar, ou até mesmo o cansaço de sobreviver em ambientes que não acolhem quem somos, vão nos moldando. E sem perceber, passamos a viver mais para reagir do que para escolher. É como estar em um barco à deriva, sem se lembrar por que partimos ou para onde queremos ir.

 

Mas os valores seguem lá.

Esperando.

Discretos.

Persistentes.

 

Feitos da mesma matéria dos sonhos que tínhamos quando éramos crianças e acreditávamos que a vida podia ser algo bonito.

 

Reconectar-se com seus valores é como voltar a ouvir uma canção que sempre esteve dentro de você, mas que o ruído do mundo abafou. É lembrar que sua vida não precisa ser perfeita para ser verdadeira. Precisa apenas fazer sentido. E sentido não se encontra nos extremos. Se constrói nas escolhas pequenas, nos gestos simples, no modo como tratamos os outros — e a nós mesmos.

 

Quando você vive conforme o que é importante de verdade, a ansiedade não some, mas ela já não manda em você. O medo pode até bater na porta, mas não decide o rumo da viagem. Porque quem sabe o que ama, não se perde com facilidade.

 

Se a vida fosse um livro, os valores seriam as entrelinhas que dão alma à história. E a sua história, apesar de todas as dores e desvios, ainda pode ser contada com coragem, beleza e presença.

 


Na próxima página, vamos falar de algo que costuma travar esse caminho: a tendência de lutar contra o que sentimos. Mas até lá, deixo uma pergunta pra te acompanhar:

Você tem vivido de acordo com o que te toca ou apenas tentando sobreviver ao que te aperta?